29 fevereiro, 2012

Eu fingi que não ia escrever

sobre isso.
Porque eu não sei sobre o que escrever. Minhas memórias estão desaparecendo e eu não tenho a mínima ideia sobre o que eu vou registrar aqui. Sei sobre o que quero falar, não sei como fazê-lo. E não sei tanto como fazer isso que estou digitando essa introdução toda numa velocidade altíssima, como se eu estivesse aflita. E estou. Aflita por não saber o que colocar aqui, porque sei que palavra alguma trasncreve o que estou pensando. E as coisas que eu penso no momento tem tantas carcterísticas: tem cheiro, tem cor, tem vozes, tem tato. E eu poderia falar sobre qualquer uma dessas coisas, mas não consigo. Não sai nenhuma palavra que tenha a ver com que o que eu quero deixar registrado aqui. A felicidade é tanta que nem cabe nas palavras. E eu fingi que saberia descrever tudo aqui, eu fingi que tudo era tão bobo que em duas ou três frases exclamativas eu conseguiria resumir tudo, eu fingi que conseguiria falar sobre tudo sem sem revirar de um lado a outro lembrando de tudo e esquecendo do resto. A única coisa que eu não fingi foi minha incapacidade de escrever sobre isso.

17 fevereiro, 2012

Em outubro

26 de outubro
é só pra me lembrar que essa hora eu estou desesperando-me com algum problema qualquer pra esquecer que você deve estar chegando na estação agora. Ou que esteja dirigindo agora. Acordei pensando nisso e decidi ir a uma livraria. Li três livros odiosos, mas ocupei meu dia. Por isso que estou contando os biscoitos mofados que estão na lata, reorganizando as agendas velhas de anos passados, assistindo o jornal que é tedioso, ouvindo músicas que são detestáveis. E esperando que a porta se abra, que a janela se abra, que os sinos toquem e a felicidade retorne. Mesmo sabendo que isso não ocorrerá. E eu não estou sendo vidente, estou sendo óbvia. Diferente de mim, você não faz as coisas pela metade.
É que você não ficou, e eu ainda quero saber quem ganha com isso: eu ou você.


De todos os outubros da vida, não me recordo de nenhum que eu tenha escrito esse texto. Provavelmente baseado no outubro dos outros. 

12 fevereiro, 2012

Originalmente sono.

De vez em quando eu sonho alto - muito alto mesmo, ao ponto de sentir vertigem - e me pergunto se é possível.
E se não for, vai fazer tanta falta ?

E se eu alimentar o sonho, ele vai crescer mais forte?
E se eu deixar ele morrer, ele vai voltar a noite para me assombrar?
E se ele destruir o que eu já tenho, será que eu vou recuar?
E se ele machucar quem eu cuido, será que isso me fere também?
E se eu não gostar do sonho quando tiver ao alcance, será que sobra refúgio para que eu não fique só ?
E se ele ganhar vida própria e sonhar comigo?
E se eu acordar e descobrir que a possibilidade de sonhar é só um sonho?

07 fevereiro, 2012

A mudança

Tinhamos encontro marcado, ao menos uma vez por mês. Eram perfeitos enquanto duravam. Depois que eu saía dali, voltava a ser quem eu era. Quem eu fingia ser. Mesmo depois do que ocorreu, ainda não sei se quem eu sou de verdade era aquele eu que ficou com ela, ou esse daqui, que escreve agora.
Tudo mudou bastante nos últimos 15 minutos.
Eu a encontrei, depois de uma semana. Estava como sempre me atraindo. E eu fui. E foram 8 minutos felizes. 10 minutos. E aí, nos 12 minutos eu percebi. Diferente de mim, que estava com os olhos vidrados nela, como se ela pudesse desaparecer como fumaça, ela naquele momento abaixou a cabeça. Fiz com que ela me olhasse. Não encontrei nada. Não estavam brilhando como quando cheguei. O que eu vi não me atraía. Vi dor. Vi lágrimas rolando na sua face. Vi um pedido de ajuda. Vi que se ela tivesse escolha, não estaria ali. Se ela tivesse escolha, pediria para não nascer. Se eu e todo mundo não estivesse ajudando a roubar as escolhar dela. Demorei três anos para perceber que me alimentava da falta de amor próprio que ela tinha. E aos 14 minutos, saí dali com a certeza de que eu não a prendo mais. Por mais egoísta e absurdo que soe, sinto que o alforriado do dia não é ela; sou eu. Fui embora sem dizer adeus, apesar de que no fundo ela acha que eu vou voltar. Eu também acho isso bem provável, mas irei resistir para não vê-la mais nunca. Sei que no fundo ela vai fazer falta. No fim das contas, a falta dela vai me fazer bem.
Vi uma coisa, ouvi umas duas frases e imaginei a história acima.