26 agosto, 2013

sobre comportas


Se antes fosse pensado nisso, haveria menos maré cheia nos olhos e enchente cessaria. Se as comportas já não comportam e a cidade veio abaixo, sossega menina. Deixa estar, que se foram embora pouco mais de uma centena, 365 virão ainda. E se a maré destruiu a cidade, que o primeiro construtor tenha audácia de aparecer e começar o trabalho. O primeiro incentiva o segundo e o terceiro. E se o décimo errar o trabalho, o primeiro volta para consertar. Sossega menina, que quando o 364º construtor chegar o concreto já vai estar enxuto, a comporta estará pronta e olha, maré alta ou maré baixa  tudo fica em sua lugar. Aquieta menina e vai buscar o segundo construtor, que o primeiro já foi embora.

20 agosto, 2013

Manifesto sobre a vida do graduando de farmácia

Livremente inspirado em Manifesto sobre a vida do artista.
O texto é uma obra de ficção e não deve ser levado a sério, grata.
Subdividido em partes, porque a graduanda de farmácia aqui tem matérias para estudar e não teve tempo de fazer o texto todo de vez.


1. A conduta de vida do graduando de farmácia
- o graduando nunca deve mentir sobre os resultados da tabela do caderno de química analítica
- o graduando não deve roubar os cálculos dos coleguinhas de sala, enganando a si próprio fingindo que sabem alguma coisa
- o graduando não deve matar outros seres humanos (mesmo que esse seja seu professor de alguma matéria estúpida e que você odeia até a alma e que te reprovou por 0,00002)
- os graduandos de farmácia  não devem achar que no futuro serão  deuses, detentores de todo conhecimento e salvadores do mundo  e deverão que tem toda sua importância numa equipe multiprofissional
- os graduandos de farmácia  não devem achar que no futuro serão deuses, nem curandeiros, nem que se forem para uma farmácia comunitária serão balconistas, muito menos "assinadores de farmácia" . E nem cogitar que vão ganhar rios de dinheiro no dia seguinte a formatura.

2. a relação entre o graduando  e sua vida amorosa:
- o graduando deve evitar se apaixonar por outro graduando que estude tanto quanto ele, porque não haverá vida amorosa
- o graduando deve evitar se apaixonar por outro graduando que estude menos do que ele, porque ele irá te levar pelo mesmo caminho
- o graduando deve evitar se apaixonar por outro graduando que estude mais do que ele (porque aí se você percebe que se tem alguém que estuda mais que você, você estuda pouco)
- o graduando deve evitar se apaixonar por graduando de outro curso que não entenda Farmácia.

3. a relação entre o graduando e o sofrimento:
- o graduando pode sofrer com as químicas
- o sofrimento cria as melhores notas (depois que você repete a matéria pela terceira vez, principalmente)
- o sofrimento faz com que você valorize aquele bando de reações que você sempre achou que não serviam para nada
- com sofrimento  o graduando passa para físico química
- com sofrimento  o graduando passa para físico química e para a química farmacêutica
- com sofrimento o graduando consegue se formar

4. A relação entre o graduando e a tristeza:
-   a graduação impõe que o graduando nunca deve estar triste, não importa se você odeia plantas e tem que estudar botânica, farmacobotânica, farmacognosia 1, 2, 12313.
- a tristeza é uma manifestação da depressão que é uma doença que deve ser tratada e você pode começar pensar no uso racional de medicamentos para os usuários de saúde mental.
- a tristeza não é produtiva para os graduandos (não enquanto você não estiver formado e ganhando dinheiros desenvolvendo "pílulas da alegria" ou trabalhando em prol do uso racional de medicamentos antidepressivos)
- a tristeza não é produtiva para os graduandos, a não ser que essa manifestação clínica seja o assunto da prova dos graduandos.


5. A relação entre o graduando e o suicídio:
- o graduando não deve cometer suicídio mesmo que esteja a um pé de ser jubilado
- o graduando não deve cometer suicídio mesmo que tenha vergonha de ter um escore menor que 5,0
- o graduando não deve cometer suicídio se está como estagiário voluntário tem dois anos sem perspectiva de ganhar bolsa


01 agosto, 2013

Dia 37 - Sobre ser morada

Eu nem tinha ido dormir e soube que minha mãe estava interfonando para me visitar. Visitas da minha mãe nem sempre eram ruins, apenas quando ela decidia que deveria cuidar de mim, coisa que ela está uns 30 anos atrasada em fazer, mas é uma situação que eu aprendi a contornar. Ela subiu, entrou no apartamento, conversamos um pouco, ela me contou um sobre o câncer terminal da vizinhas e assuntos desse nível de tristeza. Típico da minha mãe. Disse que iria no meu quarto, pra guardar os documentos que eu tinha pedido que ela trouxesse. Disse que podia deixar na mesa, mas ela insistiu em guardar no armário, entro do quarto. Paciência. Pensei em voltar aos meus afazeres até que ouvi minha mãe gritando "VOCÊ ESTÁ NAMORANDO E NÃO ME FALOU NADA??" Gritei no mesmo tom urgente "NÃO, NÃO ESTOU NAMORANDO!". Ela ficou em silêncio do outro lado e de repente surgiu do meu lado com um sutiã branco com ovelhinhas estampadas e só me disse "Isso é resquício de um caso rápido do fim de semana então?" Minha mãe queria demonstrar reprovação, mas via a cara dela de que estava empolgada com a perspectiva do filho dela ter uma possibilidade de casamento, já que eu nunca fui dado a namoros e ela cogitou mil vezes que eu fosse gay, até Andreia aparecer e ficarmos 7 anos juntos. Isso não vem ao caso, mas eu sei que minha mãe não quer que eu faça uma segunda graduação, ela quer que eu faça um filho e uma família e aquele sutiã significava muito mais para ela do que deveria.
Até que eu gostaria que significasse para mim também, mas não.
Era só mais uma arte de Cecilia.

...
 6 dias antes, encontrei Cecília almoçando na universidade. Almoçando brigadeiro, porque comida saudável não faz bem na TPM, segundo ela repete.( Cecília vive na TPM, pelo que eu pude perceber. ). Estava com duas malas enormes, disse que no dia anterior tinha dormido na sala do centro acadêmico, porque o conjugado que ela mora está em reforma por causa de uma infiltração. Eu nem precisei oferecer o teto, ela mesma me perguntou se eu não queria alugar um quarto na minha casa. Disse que iria pensar e que depois respondia. Dois minutos depois estava levando a mala dela pra um táxi e indicando onde ele deveria deixar.

...
No segundo dia de Cecília na minha casa, ainda não tinha me acostumado com a ideia dela estar a um quarto de distancia de mim, de nos esbarrarmos pela casa o dia todo e do fato dela espirrar cada vez que passa por mim depois da loção pós barba, que ela descobriu-se alérgica  Incrível como ela tinha certeza que a minha casa é tão dela quanto minha. Meu banheiro virou um closet para ela. Meu quarto, virou um lugar de estudo. O chão da minha sala, o lugar das refeições.
No terceiro dia dela na minha casa, já estava pensando em qual café da manhã ela iria gostar mais e cogitando comprar aqueles queijos sem gosto que ela adora.
No quarto dia, estava me perguntando como poderia voltar a dormir em paz se ela não estivesse acariciando minha barba enquanto assiste a novela e fala do cara que conheceu hoje e que pediu o celular dela. Desde que a conheço, deve ter sido o terceiro, se me incluir na lista.
O quinto dia, acordei e era sábado e ela tentou fazer o almoço, que ela não aguentava mais saber que eu só almoçava macarrão quando estava em casa. E ela fez saladas, molhos e um arroz cheio de coisas que eu nem sei dizer se estava bom, mas sei que era melhor que meu macarrão. E vê-la dançando enquanto cozinha pagava qualquer resquício de gosto de detergente que eu sentia no suco de maracujá. Porque tinha refrigerante, mas Cecília fica me explicando que não é saudável e quer proibir o mundo de beber refrigerante. E eu me deixo ser convencido por ela, até porque, não consigo achar motivo pra discordar do que ela argumenta. E assim, acaba a carne gordurosa, o macarrão com queijo ralado e o refrigerante do meu sábado. A única coisa ruim do quinto dia, foi descobrir que ela iria embora no sexto. 
O sexto dia começou cedo pra ela, que inventou de sair cedo de casa, junto comigo quando eu fosse  buscar minha mãe na rodoviária. Acordou duas horas antes e era só perguntas de onde estavam as coisas dela. E gritava de um lado pra outro. E quando eu saí do quarto, me deparo com Cecília vestida com a calça jeans e o sutiã de ovelha. Ela era o tipo de mulher que usava aquilo. E se ela estava usando aquilo na minha frente, já me perguntava se eu já podia desistir de um envolvimento romantico com ela ou se ela estava me dando mole ou se ela era desbocada e faria isso com qualquer pessoa que confiasse. Escolhi a terceira opção e fui pra o banheiro, enquanto liberava a passagem pra ela entrar no meu quarto e procurar os óculos e vestir a blusa no meu espelho.
E o furacão Cecília saiu da minha casa, não sem antes me abraçar mansinho e me agradecer pelo abrigo antes de entrar no taxi junto comigo, colocar os fones de ouvido e ouvir músicas aleatórias recostada em mim, enquanto eu contabilizava quantas paredes o tufão Cecília tinha reerguido em mim.

28 julho, 2013

Informações que ninguém quer receber, mas que eu julgo necessárias

Resolvi escrever para reorganizar coisas que ando pensando, para daqui a alguns meses eu olhar para isso e falar "oh, que bobagem, olha como eu era em julho, hahaha, daora a vida" ou "oh, eu pensava tanta coisa brilhante aos 20 anos!!" E publicar no blog é uma maneira de não perder esse texto (na verdade, estou considerando bastante deixá-lo no rascunho, porque odeio desabafar em publico e bom, nada pode ser mais público que isso, mas talvez as coisas escritas sejam úteis para alguém e daí para o final eu decido postar assim mesmo e nossa eu nunca me vi digitando tão rápido um parênteses) por aí, em alguma gaveta ou na versão escrita do "Além da Superfície" (considerando que alguém leia e não compreenda o que é isso, explicações: eu sempre escrevo em cadernos, diários, guardanapos os registros das coisas que ocorrem na minha vida. Isso é fantástico, porque : a) sempre lembro das coisas que ocorreram comigo; b) se eu não lembrar, eu terei como saber o que aconteceu; c) quando eu estou chateada, com raiva, triste, ao invés de descontar nos outros eu choro e escrevo, porque ninguém tem a ver com isso e aí passa; d) escrever é bom para exercitar a mente e manter a sanidade mental. Daí, esse ano eu fiz um caderno com o mesmo nome do blog, juntei todos os cadernos (de listas, diário, de oração, de atividades para fazer) e desde uns meses uso ele para tudo que eu não escrevo por aqui). E essa lista que virá a seguir vem de coisas que eu tenho guardado mentalmente desde maio na mente. Algumas eu percebi sozinha (são itens meios óbvios, tipo o 2), outros com uma pessoa, outros com várias pessoas, em experiências próprias ou não.

1. Se você sente falta de alguma coisa, alguma pessoa, algum animal, mas você não procura isso/esse, sinto informar: ninguém vai acreditar que você estava sentindo falta. O princípio é o mesmo que quando  você perde as chaves de casa: você sabe que é importante, você procura porque aquilo é necessário, você volta a ter paz quando encontra. Se não é tão importante, você não procura ou procura depois. Ninguém tem nada a ver com isso, mas não, você não precisa parecer descabelado(a) porque perdeu algo, mas não ter nenhuma atitude proativa sobre o sumiço daquele algo.
Outro exemplo: uma pessoa "some" do seu circulo social. Ninguém procura saber o que está ocorrendo, De repente, você encontra a pessoa e "OH MEU DEUS, VOCÊ ESTÁ SUMIDO, O QUE ESTÁ ACONTECENDO, EU ESTOU PREOCUPADO, ME MANDE NOTICIAS, SAUDADES, BEIJOS!!". Isso não é necessário, se sua preocupação não é verdadeira. Fim.

2. Desisti de tentar lembrar a utilidade de cada um dos "porques". Agora tanto faz para mim e essa é uma regra gramatical que eu me permiti quebrar porque se em 12 anos eu ainda não aprendi e estou viva e com perspectiva de me formar, casar, trabalhar, ter filhos sem saber dessa informação, é porque ela não é importante o suficiente (para mim, é claro. Não entendam isso como "queimem as gramáticas", continuem aprendendo a diferença entre todos os "porques" se isso traz alguma realização para vocês, rs)

3. Gente, se alguém (posso exemplificar comigo mesma? Pronto, leia "eu", no lugar de "alguem" e substitua os tempos verbais mentalmente, rs) faz alguma coisa que lhe desagrada, tem uma ferramenta fantástica que você pode fazer agora mesmo, no lugar onde você está, anotem: Abra a boca e fale. Pode molhar a ponta da flecha da verdade no mel antes de lançar, é preferível, mas fale!! FALE!! Ninguém tem bola de cristal (como se isso tivesse efeito, mas é uma expressão apropriada) para saber o que está acontecendo dentro de sua mente e as vezes um problema mínimo ao inves de ser resolvido vai sendo empurrado com a barriga. Relações humanas poderiam ser simplificadas se as pessoas falassem o que sentem em relação ao outro. Tão mais simples, tão mais eficaz.

4.  Grosserias gratuitas podem ser extintas o dia a dia. Nada é pior que receber palavras duras a troco de nada. Se seu dia está ruim, o outro não tem a ver com isso. Se você está chateado com o outro, magoar ele não vai diminuir sua cicatriz (ou quando você é atropelado por um carro e quebra a perna você quebra o carro e o motorista para ver se sara sua perna mais rápido ? Acredito que não). Estar destruído não te dar o direito de destruir o outro, independente dele ter a ver com o que quer que seja que está lhe deixando abatido. Isso é difícil, me esforço muito (MUITO! ) num auto controle para não ser chata com os outros quando estou chata (e nem na tpm isso é perdoável), nem sempre eu consigo guardar minha fúria para mim mesma, mas gente, seria tão legal que os outros tentassem fazer isso, se desculpassem depois de perceber o que fizeram ao invés de dizer "eu sou assim mesmo" e aí nós vamos pra o proximo tópico que explica que nessa situação da pessoa "síndrome de Gabriela" aprendemos que...

5. Engolir sapos (opa, vou usar todos os clichês possíveis nesse texto pelo "andar da carruagem") faz parte!  Isso é quase uma extensão do item anterior, mas acho importante para o bom convívio humano que a pessoa tolerem um pouquinho mais umas as outras. As vezes o outro não te trata da maneira que você (acha que) merece, mas vamos dar um desconto ao invés de já amaldiçoar a terceira geração da pessoa. Releve as coisas algumas vezes. Respire fundo e acredite de todo seu coração que ela está tendo um dia ruim e por isso falou daquele jeito, te tratou daquele jeito. Aprende a perdoar o outro, a conviver do jeito difícil que o outro é. Mostre-se solícito mesmo que aquela pessoa te massacre todos os dias. Não vou conseguir dar nenhum exemplo SENSACIONAL  de porque isso é bom, não cura doenças incuráveis,  não te faz rico, nem te dá Caio Castro nu na porta de sua casa (três itens que eu aprendi que muitas pessoa tem desejado ultimamente), mas tolerância com o próximo te dá paz de espírito e você se sente bem em saber que ao invés de gastar sua energia matando o vizinho, você está pesquisando na internet a receita do bolo verde (adoro bolo verde!!!) e pensando em dar um pedaço pra ele. Quem sabe ele não muda? Esse é um item que eu não tenho tanta dificuldade em cumprir, minha vida é relevar as coisas que as pessoas fazem, afinal eu também sou chata, quero que me tolerem, ame ao próximo como a si mesmo, essas coisas.

6- Eu tenho problemas em gostar de quem me maltrata, mas consigo relevar isso mais fácil do que gostar de alguém que maltrata cachorro por exemplo. Ou que é mal educado com os outros. Sim, eu mudo toda a concepção de uma pessoa que é fantástica comigo se eu souber que ela é ruim com outro. Prefiro que ela seja ruim comigo e que todo dia eu pense que eu faço algo que desagrada (voltar pra item 3) do que eu imaginar que ela despreza alguém do meu apreço a troco de nada. Não sei se faz sentido, mas é assim que tem funcionado comigo. Me ridicularize e eu ainda consigo (depois de muito auto controle) te dar bom dia sorrindo, pensando que essa situação pode mudar um dia Ridicularize o outro sem motivo (ou com motivo, whatever) e eu não consigo ser a mesma com você. Preciso de solução para esse item, caso alguém tenha estou aceitando.

7. Durante muito tempo eu tinha pessoas que eu não ia com a cara, por motivos "tem cara de chato", "não gosto do cabelo", "fala alto demais". Um dia comum eu acordei pensando em quantas pessoas já me disseram que resistiram a falar comigo porque me achavam metida. E eu não gostei mais da ideia de "não ir com a cara de alguém" antes de conhecer. Ter o hábito de querer conhecer o outro, seus pontos de vista, como ele vê o mundo, ao invés de "julgar pela capa" é uma experiencia válida. Pela extinção do "não fui com a cara de fulano" antes de conhecer (ou baseado nas informações passadas sobre fulano, o que seria um pré conceito, que é o próximo item).

8. Tenha pré- conceitos sobre as coisas, porque conhecimento empírico é útil e usar a intuição é válido. Só não é interessante se apegar a isso. Melhor que o pré conceito é o pós conceito. Dê a si o trabalho de descobrir a coisa antes de reproduzir um conceito superficial da coisa, baseado no achismo. Não perca seu tempo criando juízo de valor sobre algo, sem ter conhecimento além do seu pré conceito sobre esse algo. As coisas vão sempre além do que o que parece óbvio.

9. Procrastinar não rende fruto nenhum. Nunca. Não se iluda. Não existe tempo vago, existe alguma atividade útil que está sendo negligenciada (mesmo que essa tarefa seja dormir, como no meu caso agora)

10. As vezes se faz necessário usar toda liberdade (amo essa palavra e todo significado - muitas vezes utópico -  que ela carrega. Acho que é minha palavra predileta, podia ser o item 11 isso) que temos nas mãos para fazer nossas escolhas. Perceba que nesse item eu uso a primeira pessoa do plural, me incluo no grupo de pessoas que precisam ser convencidas por isso. Que as vezes a gente faz o que todo mundo quer, até o padeiro tem maior influencia nas nossas escolhas que nós mesmos. Por isso, esse item foi criado; para lembrar para mim mesma (e para quem estiver lendo) que escolher o que se quer, não dói. Se não fere seus princípios, não fere o direito do outro, não vejo motivo que te impeça de arriscar uma escolha diferente. O corte de cabelo que sempre disseram que não ficava bom em você, a aula de canto que sempre disseram que você não tinha tempo, o curso da graduação que sempre disseram que você não tinha talento para seguir e tantas outras coisas que deixamos de lado porque um terceiro diz (impõe!) qual a regra da vez. Se der errado, enquanto há vida há esperança, não é mesmo ? (estou cheia dos clichês hoje)

Em breve mais itens das minhas reflexões atuais!

11 julho, 2013

Tudo que é seu e não meu - da categoria das cartas não enviadas

Eu acho muito amor a voz de sono, a barba que cresce para todos os lados e quando chega no tamanho ideal, ela some. Os cabelos que não obedecem meu comando e fica lá regulado no lugar, a contragosto. A data de 10 anos antes, que pareceria muita coisa 10 anos atrás, mas que 10 anos na frente já não é uma desventura; antes sorte de achar quem sabe das coisas que eu desconheço e ao mesmo tempo compactua com minhas ideias sobre o mundo paralelo ao nosso, coisa que só faria antes de eu nascer.  Tem a mão que sobe e desce na minha, a mão suando na minha, a mão com as unhas que eu reclamo. As mãos que sobem, descem, percorrem e tentam ver o que está ao alcance dos olhos, mas que pode ser tateado, descoberto, lido. Tem os olhos que fitam os meus, mesmo quando eu reviro os olhos e digo para virar para o outro lado.
Ultimamente, até o sorriso torto é bonito. A risada das piadas idiotas, que eu acho graça, mas finjo que não acho, para se achar menos. Tem uma pausa nas falas a cada palavra pronunciada, que causa um nervosismo instantâneo, na curiosidade que tenho de descobrir o que se quer dizer e cada 10 minutos são duas palavras e ainda assim acho bonito, o ser diferente de mim, que não calculo o que falo, nao faço pausas e não meço palavras. Gosto do silencio na linha, que ao mesmo tempo me inquieta e me dá tempo de respirar. Suas implicâncias com as não obviedades do óbvio, suas duvidas sobre o que não é concreto, sua mania de querer saber tudo do mundo. Do sinal nas costas, da pele que puxa, do cheiro que é tão reconhecível e característico desde sempre, independente do uso de perfume detestável ou não.
Nos traços psicológicos também é possível achar beleza, em tudo que não há nos outros e sobra aí. É tanta atipicidade que ao invés de assustar, encanta. Por vezes as histórias parecem irreais de tanta coisa que ocorre e eu ouço de ouvidos atentos e coração aberto, pensando em como eu acho fantástico a sobriedade que conta as coisas tristes como se elas não tivessem acontecido de verdade.  E esse texto é um apanhado de coisas que andei pensando, que eu acho que você já sabe, que eu acho que não lhe entrego, que acho que não devo te contar porque morrerei de vergonha, que acho que não faz muito sentido - como tudo que eu escrevo em vinte minutos - mas que eu acho que vale deixar registrado, porque você me diz que eu só lembro das coisas porque escrevo. E eu não quero correr o risco da amnésia seletiva me alcançar, justo com você.

30 junho, 2013

Sobre escolhas de uma tarde aletaória

Há uma parte que diz que o "sim" é a resposta. Tem outra, um pouco maior que insiste que a resposta de três letras é "não". E essa segunda parte é tão sagaz que tem a audácia de arranjar um argumento: "quando você diz "sim" para o bom, está dizendo "não" para o melhor". E a parte que me manda dizer "sim", grita do outro lado: "mas é o "sim" que fará ela feliz". A metade do contra então replica:  "no momento, fará feliz, mas as consequências podem ser desastrosas. Para que arriscar?" E o outro lado insiste: "Se você não tentar, vai ficar com a dúvida para sempre aí dentro. Dúvidas matam. E as consequências também serão desastrosas". 

 "Dessa vez eu tive medo, mesmo assim eu disse "sim". Percebi o percevejo e deixei cravado em mim"

Junk food, eu disse "sim" para você, hahaha







30 abril, 2013

Pupilas dilatadas

Não sou eu, não posso acreditar que sou eu. É um bicho que toma conta, que engole  meu querer, que faz estragos qu dilata a alma, que me toma o corpo, que me escraviza e quem me faz querer ser sua.
Não é minha culpa, as palavras surgem, são ditas, são cuspidas, são escritas, as vezes saem gemidas, engatinham até chegar em quem me escuta, em quem me atenda, em quem me escute, em quem me aceite desse jeito.
Não é que eu possa, não é que eu deva, mas é que eu quero e o querer me toma e alimenta a fera que eu tenho dentro e quanto mais ela quer, mais ela me sufoca e ela sempre quer. Não sou eu, é ela.
Ela não é a mesma que eu, porque passa um tempo e eu estou esgotada e ela regozijada, porque sabe que me venceu. Quem vê, pensa que sou eu. Não, é ela. Serei culpada por não conseguir dominar ela. E ela conhece os meus passos, meus limites, minhas fraquezas, conhece tudo que eu mesma desconheço. É ela, essa peste, que assombra a alma, que tira todas as minhas forças, que me faz revirar na cama sem saber o que fazer. É esse monstro que toma conta dos meus gritos. Não sou eu, é ele.
É ele que me persegue e diz que eu sou indefesa, é ele que entra e dá pontapés gritando que tem urgencia em sair como se eu fosse uma mãe prestes a parir. É ele que muda meu humor, me faz chorar, me faz rir, me faz ser extremo e meio, me deixa em posição fetal de mãos e pés atados. Me tira o ar, o gás, a vontade de ir contra essa vida.
É com sangue que ela vai embora. É com dor, é com sacrfiício, é com corte, com arranhões, com pontadas, com gemidos abafados. É com suor que ele vai embora, é com trabalho, com peso, com pressa, com gritos de fúria, com sobrecarga, sobressaltos, sobretudo, esforço.

23 abril, 2013

(Dia 03) - Odds Ratio para Cecília


Odds ratio  “A razão de chances ou razão de possibilidades (em inglês: odds ratio; abreviatura O.R.) é definida como a razão entre a chance de um evento ocorrer em um grupo e a chance de ocorrer em outro grupo. A razão de chances precisa ser igual ou maior que zero”

Por exemplo, suponhamos que em 30 anos eu tenha conhecido 100 mulheres. Dessa amostra de 100 mulheres, 7 se interessaram por mim. 3 não contam, porque eu não correspondi. Me relacionei seriamente com 4 delas então, cheguei a noivar com a quarta. A chance de alguém se interessar por mim então é 7 para 100. A chance de alguém se interessar e eu corresponder é 4 para 100. A chance de dar certo é 0 para 100, porque nunca dá certo. Com Danúbia até dava, até ela dizer que ou eu tomava tendência ou ela ia embora e aí ela foi.  Tomar tendência não é como tomar chopp. Pra Danúbia, tomar tendência é conquistar o mundo de terno e gravata. E isso é pior do que café frio.
Cecília. Em 20 anos, Cecília conhece muito mais que 100 homens, as redes sociais apontam uns 360 pelo menos. Desses 360, uns 100 ela interagiu bastante.  Dos 100, 50 não houve empatia alguma. Dos 50, uns 30 quiseram ter algo com ela. 12 queriam sexo. 9 ela se apaixonou e não for correspondida. 9 se apaixonaram por ela e 6 desses foram correspondidos em algum momento da vida. 
Cecília tem 20 anos, mas a probabilidade de que alguém se apaixone por ela antes dela abrir a boca é 30 para 100, porque ela é bonita. Depois que ela abre a boca, o número de interessados continua sendo 30, mas a amostra se reduz a metade, porque ela perde contato, porque ela é nômade e não corre atrás dos outros. As chances então parecem que se tornam 30 para 50. Os cálculos indicam então, que a probabilidade de um cara se interessar por ela é maior do que a dela se interessar por ele e que as chances dela corresponder a alguém que já goste dela é maior do que alguém que ela gosta corresponder a ela. Por algum motivo, Cecília tem vários homens querendo ela – e eu já posso me incluir nessa lista – mas ela se interessa inicialmente pelos improváveis, porque Cecília gosta do ridículo e foge do comum.

Resultado do problema:
P(A) = 0,07 (essa é a probabilidade de uma mulher se interessar por mim)
P(B) =  0,6 (essa é a probabilidade de um homem se interessar por Cecília, o que mostra que ela pode ter o homem que quiser na universidade, fora dela, em qualquer lugar terá alguém para se apaixonar por ela)

A razão de chances então é igual a:  0,07/0,6

Cecília me põe no chinelo, quando o assunto é romance. Precisei calcular para ter certeza disso. E segundo os cálculos, nossa probabilidade de dar certo é ínfima.
E eu a desejo assim mesmo, contrariando todos os cálculos do mundo.

04 janeiro, 2013

Esclarecimentos

E eu devo abrir um espaço para escrever de novo.
Dessa vez pra um novo destinatário.
Não é  pra Alice, nem pra Papai, nem pra nenhuma nova paixão (não) correspondida
(se bem que eu poderia fazer milhões de cartas para Alice, Papai e para as paixões correspondidas ou não)
Dessa vez a carta é para mim mesma.
Para mim, Kath. Para mim, Catharina.
Sim, eu ainda sou um pouco de Catharina, mesmo não desejando. Mesmo vivendo a anos como Kath. Mesmo vivendo a anos na sombra de Alice.
Quando eu ainda era Catharina, quando ainda morávamos em outro lugar sem Papai e quando Alice quase nem se "manifestava", houve uma mudança nas pessoas, e essa mudança me afetou diretamente e eu fui levada a mudar algumas ações minhas. Sei que a carta é para mim mesma e que ninguém nunca terá acesso a ela, mas não mencionarei o que ocorreu. Isso me fez mudar, começando de lugar, depois de companhia para morar e por último de nome. Assim, encontro-me aqui nesse casebre, morando com Alice (que dispôs - se a vir atrás de mim quando soube que eu fugiria) e com Papai, e fingindo que Kath é meu nome. Kath significa "guerra" e Catharina significa algo relacionado a pureza, que era tudo que eu não tinha naquele momento.
Desde então, eu e Alice alternamos nossas vidas. Ninguém nunca me conhece por inteiro, nem Alice por inteiro. Ninguém que conhece Alice me conhece. Mesmo que eu me passe por Alice, as pessoas sempre acreditam que somos uma só pessoa. Sempre me pergunto se todos são tão tolos ao ponto de não observarem as notáveis diferenças dos dias que trocamos de lugar, ou se nós fingimos tão bem que ninguém nota as mudanças. Não sei.
E finalmente o motivo real dessa carta: eu não sei me perdoar. Mesmo que Alice tente me convencer toda noite de que já passou tudo, mesmo que Papai diga que tudo ficou pra trás e já pode ser esquecido, eu não consigo. E além disso, não perdoei os que me causaram isso. Não me desliguei totalmente deles. Ignoro esses dois fatos. Quando olho no espelho, sempre vejo uma Catharina amargurada, tentando sufocar uma Kath alegre. Não quero voltar atrás, só quero aprender a não mais odiar a Catharina que eu fui um dia. Só quero aprender a conviver com quem eu era.
Desde 2010.