04 janeiro, 2013

Esclarecimentos

E eu devo abrir um espaço para escrever de novo.
Dessa vez pra um novo destinatário.
Não é  pra Alice, nem pra Papai, nem pra nenhuma nova paixão (não) correspondida
(se bem que eu poderia fazer milhões de cartas para Alice, Papai e para as paixões correspondidas ou não)
Dessa vez a carta é para mim mesma.
Para mim, Kath. Para mim, Catharina.
Sim, eu ainda sou um pouco de Catharina, mesmo não desejando. Mesmo vivendo a anos como Kath. Mesmo vivendo a anos na sombra de Alice.
Quando eu ainda era Catharina, quando ainda morávamos em outro lugar sem Papai e quando Alice quase nem se "manifestava", houve uma mudança nas pessoas, e essa mudança me afetou diretamente e eu fui levada a mudar algumas ações minhas. Sei que a carta é para mim mesma e que ninguém nunca terá acesso a ela, mas não mencionarei o que ocorreu. Isso me fez mudar, começando de lugar, depois de companhia para morar e por último de nome. Assim, encontro-me aqui nesse casebre, morando com Alice (que dispôs - se a vir atrás de mim quando soube que eu fugiria) e com Papai, e fingindo que Kath é meu nome. Kath significa "guerra" e Catharina significa algo relacionado a pureza, que era tudo que eu não tinha naquele momento.
Desde então, eu e Alice alternamos nossas vidas. Ninguém nunca me conhece por inteiro, nem Alice por inteiro. Ninguém que conhece Alice me conhece. Mesmo que eu me passe por Alice, as pessoas sempre acreditam que somos uma só pessoa. Sempre me pergunto se todos são tão tolos ao ponto de não observarem as notáveis diferenças dos dias que trocamos de lugar, ou se nós fingimos tão bem que ninguém nota as mudanças. Não sei.
E finalmente o motivo real dessa carta: eu não sei me perdoar. Mesmo que Alice tente me convencer toda noite de que já passou tudo, mesmo que Papai diga que tudo ficou pra trás e já pode ser esquecido, eu não consigo. E além disso, não perdoei os que me causaram isso. Não me desliguei totalmente deles. Ignoro esses dois fatos. Quando olho no espelho, sempre vejo uma Catharina amargurada, tentando sufocar uma Kath alegre. Não quero voltar atrás, só quero aprender a não mais odiar a Catharina que eu fui um dia. Só quero aprender a conviver com quem eu era.
Desde 2010.