11 julho, 2013

Tudo que é seu e não meu - da categoria das cartas não enviadas

Eu acho muito amor a voz de sono, a barba que cresce para todos os lados e quando chega no tamanho ideal, ela some. Os cabelos que não obedecem meu comando e fica lá regulado no lugar, a contragosto. A data de 10 anos antes, que pareceria muita coisa 10 anos atrás, mas que 10 anos na frente já não é uma desventura; antes sorte de achar quem sabe das coisas que eu desconheço e ao mesmo tempo compactua com minhas ideias sobre o mundo paralelo ao nosso, coisa que só faria antes de eu nascer.  Tem a mão que sobe e desce na minha, a mão suando na minha, a mão com as unhas que eu reclamo. As mãos que sobem, descem, percorrem e tentam ver o que está ao alcance dos olhos, mas que pode ser tateado, descoberto, lido. Tem os olhos que fitam os meus, mesmo quando eu reviro os olhos e digo para virar para o outro lado.
Ultimamente, até o sorriso torto é bonito. A risada das piadas idiotas, que eu acho graça, mas finjo que não acho, para se achar menos. Tem uma pausa nas falas a cada palavra pronunciada, que causa um nervosismo instantâneo, na curiosidade que tenho de descobrir o que se quer dizer e cada 10 minutos são duas palavras e ainda assim acho bonito, o ser diferente de mim, que não calculo o que falo, nao faço pausas e não meço palavras. Gosto do silencio na linha, que ao mesmo tempo me inquieta e me dá tempo de respirar. Suas implicâncias com as não obviedades do óbvio, suas duvidas sobre o que não é concreto, sua mania de querer saber tudo do mundo. Do sinal nas costas, da pele que puxa, do cheiro que é tão reconhecível e característico desde sempre, independente do uso de perfume detestável ou não.
Nos traços psicológicos também é possível achar beleza, em tudo que não há nos outros e sobra aí. É tanta atipicidade que ao invés de assustar, encanta. Por vezes as histórias parecem irreais de tanta coisa que ocorre e eu ouço de ouvidos atentos e coração aberto, pensando em como eu acho fantástico a sobriedade que conta as coisas tristes como se elas não tivessem acontecido de verdade.  E esse texto é um apanhado de coisas que andei pensando, que eu acho que você já sabe, que eu acho que não lhe entrego, que acho que não devo te contar porque morrerei de vergonha, que acho que não faz muito sentido - como tudo que eu escrevo em vinte minutos - mas que eu acho que vale deixar registrado, porque você me diz que eu só lembro das coisas porque escrevo. E eu não quero correr o risco da amnésia seletiva me alcançar, justo com você.

Nenhum comentário: